Miguel Pina e Cunha

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Miguel Pina e Cunha é doutorado em Gestão e professor de liderança na Nova School of Business and Economics


Quando decidiu ser autor?

É algo que “não estava escrito nas estrelas”. Não era um sonho. Quando tinha oito anos queria ser jogador de futebol, não escritor. Entretanto tive a felicidade de começar a escrever no contexto académico. Trabalhei nos primeiros anos da minha carreira no ISPA que tinha já nessa altura uma tradição de publicação e locais para publicar, havendo alguma expectativa de que as pessoas escrevessem. Comecei assim a ganhar o interesse não só pelo ensino, mas também pela escrita. Hoje considero que é um verdadeiro privilégio ser pago para estudar, aprender e escrever.

Qual o próximo livro que vai publicar?

Um livro sobre paradoxos corporativos publicado pela editora Britânica Elgar. O mundo está cheio de contradições e as empresas em particular são intrinsecamente paradoxais. O livro faz toda uma análise à volta desta ideia. (Saiba mais sobre o livro aqui).

Dos muitos livros que escreveu, há algum que se destaque por lhe ter dado especial gosto em criar?

O livro que mais me interessa é sempre aquele que estou a escrever. Acho que o livro, depois de acabado, é do leitor e não do autor. O livro que me empolga é sempre aquele que estou a fazer agora, onde posso pôr o meu esforço e a minha imaginação, os outros estão fechados.

Dito isto, se tiver de escolher um posso sugerir o Organizações Positivas que no fundo é uma obra que resume um pouco o que eu penso que devem ser as organizações. Se tivesse de ficar só com um, talvez fosse esse. Embora do ponto de vista do impacto creio que o Manual do Comportamento Organizacional foi o mais consequente para a vida das pessoas.

Quais são as grandes linhas gerais de temas que estuda?

A minha escrita tende a focar-se em certas temáticas como tensões e paradoxos, perspetivas organizacionais positivas, as organizações como processo (a mudança, o inesperado, os extremos). Não me interessa tanto o lado das organizações muito funcional, prescritivo e regulado.

No meio disto, há por vezes temas que abrem outros temas. Por exemplo, no que tenho escrito com o Arménio, temos tido alguns projetos que são feitos um pouco à volta de biografias de líderes. A uma dada altura chamou-nos a atenção o facto de os líderes serem muitas vezes fotografados com os seus cães. Estudámos um pouco a questão que acabou por resultar num pet project, o livro Cães e cãopetências na vida organizacional.

Quais são os seus hábitos de leitura? Quantos livros lê por ano? Tem um lugar favorito onde lê?

Leio por gosto e por trabalho. O sítio habitual, se eu puder, é a andar e a ler em voz alta no quintal à volta de minha casa (o que deve parecer um bocado esquisito aos meus vizinhos). Também gosto de ler nas viagens de avião, acho que a única vantagem das viagens longas é ter uma desculpa para estar fechado a ler durante algum tempo. Gosto de ler à noite como muita gente. O livro gosto de ler em papel, os artigos, são mais curtos leio em formato digital num e-reader. Leio entre 15 e 20 livros por ano.

Que tipo livros lê fora do âmbito profissional?

Só um bocadinho omnívoro, tanto nos livros como na música – biografias, romances, ficção. Neste momento estou a ler um livro do Mario Vargas Llosa O Apelo da Tribo um relato interessante sobre a sua experiência politica e como se foi aproximando das ideias liberais.  Estou a ler também A Pandemia que Abalou o Mundo do Zizek e Why Nations Fail do Acemoglu,. Descobri recentemente o Machado de Assis e li várias obras dele.

Que livros recomenda para queira compreender o atual paradigma com a questão da pandemia?

Guns, Germs and Steel do Jared Diamond é um livro espetacular, dos melhores livros que li na vida, é impressionante como é que alguém pode saber tanto de tanta coisa. O autor explica como a história dos últimos milhares de anos foi moldada pelas espingardas, pelos germes e pelo aço – e aqui temos nós neste momento um germe a mudar o mundo.

Que livros recomenda para motivar líderes empresariais face aos desafios do momento?

O contexto mudou, mas a essência da liderança em si não mudou.

O Mindset da Carol Dweck. É um livro muito interessante que mostra no fundo a importância de apoiar o desenvolvimento das pessoas, que neste momento é ainda mais crucial do que em momentos normais. Outro livro que tem sido muito enfatizado que fala da compaixão, na importância de tomar conta do lado humano do negócio é o Awakening Compassion at Work.

Que livros o marcaram?

O Processo do Kafka. Creio que qualquer pessoa, depois de ler o Kafka nunca mais olha para uma organização como sendo um sítio que não tem um lado um bocadinho kafkiano. Eventualmente o meu interesse pelos paradoxos talvez tenha até um pouco a ver com isto. É um livro que me impressionou muito.

Mais recentemente, há outro livro que adorei que é o Guerra e Paz e que acho que todos devemos ler. É um livro que mostra de uma maneira brilhante como o muito grande e o muito pequeno se misturam e afetam.

O Dom Quixote, que li um bocado por influência de um dos meus heróis intelectuais que é o James March, também gostei bastante uma vez mais por aquela mistura paradoxal de “loucura”, “paixão” e “perseverança”.

Outro livro que mudou para sempre a minha maneira de pensar é um livro que até hoje para mim é o meu livro favorito de organizações, The social psychology of organizing do Karl Weick. O autor nem fala tanto de organizações, mas de “organizing”. A ideia é que a organização está sempre a organizar-se, o processo de organização nunca está concluído nem está fechado. É um livro que não se esquece.           

Quais são três livros geniais da gestão dos últimos 50 anos?

The social psychology of organizing do Karl Weick que acho que é o mais genial de todos.

Images of Organization do Gareth Morgan, que acho que é uma obra do outro mundo.

Power and Organizations do Stewart Clegg

Power de Jeffrey Pfeffer

Onde vai buscar inspiração para ideias para novos livros?

Normalmente quando estou a escrever um livro começam a surgir temas interessantes que gostaria de explorar mais e as ideias vêm daí. Eu tenho ideia de que quando a pessoa está ativamente a fazer investigação, a pessoa vai andando e os temas vão aparecendo, o importante é não parar.