Pedro Pita Barros

Doutorado em Economia, Professor Catedrático na Universidade Nova de Lisboa, membro do Expert Panel on Effective Ways of Investing in Health (European Commission), membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e membro do Conselho Nacional de Saúde. 

Conheça a sua obra em www.almedina.net


Pedro Pita Barros, economista e autor Almedina, está a acompanhar diariamente a evolução do Coronavírus na economia e sociedade portuguesa, um conjunto de artigos que iremos partilhar nesta rúbrica a que o autor chamou Vida com o Coronavírus da Covid-19

Terceiro programa Gabinete de Crise, na Rádio Observador, sobre “estamos a conseguir tirar pressão ao Serviço Nacional de Saúde?, pressão devido à COVID-19 naturalmente, e tendo como convidado Pedro Ponce, médico de cuidados intensivos, a dar o relato da realidade que vê.

Do meu lado, o contributo por escrito segundo as linhas habituais (a versão oral é sempre ligeiramente diferente da versão escrita, por isso sugiro ouvir primeiro, e ler depois).

Número da semana: -60% de movimento de pessoas em lojas, mercados, supermercados e farmácias depois da declaração do estado de emergência, menos do que em geral. É importante por revelar que em locais de compra de bens essenciais, locais candidatos a serem pontos de transmissão de contágio, houve uma diminuição acentuada da circulação de pessoas. Também revela que a logística de abastecimento destes bens esssenciais tem sido assegurada por produtores, transportadores e distribuidores.

Tema da semana: a capacidade do sistema de saúde em dar resposta, tendo como centro o Serviço Nacional de Saúde em Portugal. Primeiro ponto, nenhum sistema de saúde está preparado – no sentido de ter capacidade imediatamente disponível – para responder a uma pandemia que leve a um número elevado de casos de internamento e em unidades de cuidados intensivos. O que é importante é perceber suficientemente cedo os sinais do que possa estar a chegar e preparar da melhor forma – o que significa neste contexto, só colocar dentro do hospital quem realmente precise e mobilizar a capacidade adicional para as zonas de intervenção críticas. Nesta pandemia, tivemos algum tempo de avanço – vimos o que sucedeu na China, e depois em Itália e Espanha. Comparação internacional das capacidades dos sistemas de saúde: a informação é antiga e não tem em conta estes elementos de flexibilidade. Antecipamos com quatro linhas de atuação – primeiro, ganhar tempo – com identificação e isolamento dos primeiros casos; segundo, estratégia global de manter doentes que não precisam de internamento fora dos hospitais – o que ficou conhecido como os 80 – 15 – 5. Ter anunciado e feito desde o início garantiu que não se “inundou” os hospitais logo à partida; c) mobilização de capacidade interna – preparando outros serviços que não apenas pneumologia para receber doentes COVID e adquirindo mais ventiladores; Faz parte deste esforço adiar cirurgias não urgentes (mas as cirurgias urgentes devem continuar, e quem precisar deve continuar a ir procurar ajuda) d) contratar antecipadamente com o setor privado a opção de usar capacidade que tenham, se vier a ser necessário usá-la. Com a incerteza sobre o que vai ser realmente necessário, esta flexibilidade de utilização progressiva de capacidade é importante. Até porque a capacidade aqui é não só camas, ventiladores mas também profissionais de saúde. E se ventiladores podem ser comprados, não se consegue formar profissionais de saúde a tempo. Em momentos anormais, os números de capacidade normal dizem muito pouco, sendo muito mais importante ter a flexibilidade de adicionar capacidade antecipadamente e conforme se previr que vai sendo necessário. De momento, estas linhas de resposta parecem estar a conseguir evitar as situações dramáticas que foram reportadas em Espanha e Itália, e agora em Nova Iorque.

Mito da semana:  vai haver uma vacina em breve, até ao Verão. É falso porque a produção de uma vacina, com os testes necessários para garantir que protege e é segura, bem o próprio processo de a produzir, não leva menos de um ano depois de descoberta, e neste momento não há sequer uma descoberta comprovada. Há várias tentativas em curso, mas sem certeza do que possam originar.

Esperança da semana: os números de novos doentes confirmados indiciam que as medidas de restrição de mobilidade e distanciamento social estão a começar a produzir os efeitos pretendidos. A esperança é que esta evolução se confirme nos próximos dias e semanas, e para que isso aconteça é necessário manter o esforço.

Artigo originalmente publicado por Pedro Pita Barros a 10 de abril em https://momentoseconomicos.com/2020/04/10/gabinete-de-crise-no-3-na-serie-vivendo-com-o-coronavirus-20/