Ilídio Tomás Lopes

Doutor em Gestão de Empresas com especialidade em contabilidade, mestre em Estatística e Gestão de Informação e licenciado em Organização e Gestão de Empresas, é docente do ensino superior desde 1994 e atualmente professor de mestrado e pós-graduação no ISCTE. É autor de diversos textos e livros.

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O contexto de pandemia que estamos a vivenciar, motivado pela COVID-19, e cujo fim ainda não se consegue vislumbrar, convoca-nos à reflexão, tanto na esfera individual como na esfera coletiva.

Com resiliência e racionalidade, olhemos para este tempo e para este circunscrito espaço, como uma oportunidade de aprendizagem e de modelação do nosso futuro individual e coletivo. Os impactos sociais e económicos são deveras imprevisíveis e incomensuráveis, tanto no contexto micro como macroeconómico. Porém, vejamos na ilusória e metafórica “mão invisível” de Adam Smith (in “A Riqueza das Nações”, 1776), a oportunidade de algum realinhamento económico e social. Questionemos os desequilíbrios e as disrupções dos últimos tempos, e aproveitemos este período atípico, para nos reinventarmos e traçarmos um caminho mais sustentável, mais equilibrado, quiçá “mais justo”.

Do ponto de vista empresarial, há que potenciar e explorar, nos casos e contextos em que tal se revele exequível, as reais possibilidades do Teletrabalho, orientando a atividade para uma adequada gestão por objetivos. Para além de potenciais economias de recursos fixos, podemos estar perante incrementos na motivação individual, por equilíbrio entre os pilares profissional e familiar, ambos estruturantes da condição Humana. Sinaliza-se igualmente a oportunidade de repensar processos e planos de contingência, que sejam capazes de proteger a nossa condição Humana. A real consciencialização dos conceitos de tempo e de espaço encontra nesta fase a sua génese e pertinência.

Chegados aqui, é no plano social que a “mão invisível” parece ter o seu maior impacto. Interiorizemos esta fase como a oportunidade de realinhamento deste nosso complexo mundo, seja pela redução dos efeitos nocivos em matérias ambientais, seja pelo travão à agitação e à pressa que todos nós íamos euforicamente vivendo, seja pelo travar da especulação económica, seja pelo reatar de afetos muitas vezes esquecidos, seja pela relativização das nossas prioridades e realizações. Assinalaremos, num tempo que se requer próximo, o marco em que a reflexão fez mudar comportamentos e condutas. Um tempo em que a Humanização colocou em segundo plano condutas alicerçadas no Materialismo, no Imediatismo, e no Descartável. Nesse tempo, teremos dado um passo em frente, conscientes de que este nosso mundo adquiriu novo sentido e importância.

As imposições emergentes da COVID-19, e do consequente estado de emergência nacional, fazem emergir comportamentos individuais e coletivos que carecem de reflexão e ponderação. Seja no plano pessoal, seja no plano profissional, há que desempenhar, enquanto seres pensantes e conscientes, um papel deveras diferente e diferenciado. Num tempo em que os fatores de produção “Terra e Trabalho” assumem particular relevância, tomemos a metafórica “mão invisível” como a orientação suprema rumo a um futuro estruturalmente mais equilibrado e sustentável.