Pedro Pita Barros

Doutorado em Economia, Professor Catedrático na Universidade Nova de Lisboa, membro do Expert Panel on Effective Ways of Investing in Health (European Commission), membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e membro do Conselho Nacional de Saúde. 

Conheça a sua obra em www.almedina.net


Pedro Pita Barros, economista e autor Almedina, está a acompanhar diariamente a evolução do Coronavírus na economia e sociedade portuguesa, um conjunto de artigos que iremos partilhar nesta rúbrica a que o autor chamou Vida com o Coronavírus da Covid-19

Um dos efeitos colaterais da pandemia covid-19 é uma queda substancial da actividade económica, e os habituais indicadores utilizados para aferir a evolução da economia irão registar evoluções inevitavelmente negativas em 2020.

Foram convidadas várias economistas para dar ao “momentos económicos” a sua estimativa pessoal do possível impacto da Covid-19 na economia portuguesa em 2020, para se ter uma visão complementar às dos “dez economistas” do Expresso.

É naturalmente necessária cautela na interpretação destes valores, face à enorme incerteza sobre a duração e gravidade desta pandemia.

Estas previsões, com as ressalvas expostas, complementam a visão dos dez economistas consultados na edição de 21 de março de 2020 no Semanário Expresso (“PIB em queda e défice a disparar no melhor dos cenários para 2020”).

Responderam às questões do “momentos económicos” Joana Pais (ISEG), Paula Carvalho (BBPI), Sandra Maximiano (ISEG) e Susana Peralta (Nova SBE).

Os quadros seguintes ilustram as semelhanças e diferenças. O valor médio para as estimativas do crescimento do PIB em 2020 fica numa quebra de cerca de 9%, cerca do dobro do efeito cumulativo 2011-2013. Em termos de desemprego, a subida para perto dos 10% deixa ainda assim a economia num patamar melhor do que foi o nível de desemprego no auge dos tempos da troika. Já a previsão média dos efeitos sobre o défice público deixam-nos ao nível do que foram os anos 2009-2010, e que depois levaram à crise da dívida pública e à intervenção da troika. Resumindo, haverá uma quebra substancial na atividade económica, ainda assim com uma certa proteção do emprego, e que nos faz voltar atrás cerca de 10 anos, para os tempos da crise financeira internacional que precedeu o pedido de ajuda e os “tempos da troika”.

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Fonte: Expresso (para os “dez economistas”), elaboração própria (para “as economistas”)

Em declarações ao “momentos económicos”, Susana Peralta (Nova SBE) referiu a importância de “ser necessário financiar diretamente as famílias; houve sectores de atividade ligados aos serviços que foram fechados de um dia para o outro por ordem do governo.” As características do mercado de trabalho português, em que existe um número muito substancial de trabalhadores sem contratos permanentes, exige uma resposta que vá directamente ao problema. Novamente, nas palavras de Susana Peralta “Muitas das pessoas que trabalham nestes sectores não têm vínculos contratuais e o governo não vai conseguir apoiá-las via empresas.” Se em tempos normais, as empresas optaram por não ter vínculos permanentes, não será nas actuais condições extraordinárias que o irão fazer. A queda de rendimentos dos trabalhadores, espera-se que temporária, exige por isso uma intervenção direta.

A resposta das autoridades económicas merece também um forte reparo de Susana Peralta, que defende a uma atuação forte do BCE, e da EU em geral, pois se não o fizer “estará a renegar a própria razão histórica que levou à sua fundação: um projeto solidário de nações no rescaldo de uma guerra que destruiu o continente”

[Nota final: o pedido de previsões / estimativas foi feito a 10 economistas portuguesas, conforme for recebendo mais previsões irei atualizando os quadros e os comentários.]

Artigo originalmente publicado por Pedro Pita Barros a 25 de março em https://momentoseconomicos.com/2020/03/25/previsoes-economicas-vida-com-o-coronavirus-10/