Owen Matthews estudou História Moderna em Oxford, antes de iniciar a sua carreira como jornalista na Bósnia. Escreveu para o Moscow Times, The Times, Spectator e Independent. Em 1997, tornou-se correspondente da revista Newsweek em Moscovo, cobrindo a segunda guerra chechena, da guerra do Afeganistão, do Iraque e do conflito no Leste da Ucrânia. O seu primeiro livro sobre a história da Rússia, Stalin’s Children, foi traduzido para vinte e oito línguas e foi finalista do First Book Award do jornal The Guardian e do Prémio Médicis. O Espião Perfeito foi finalista do Pushkin House Prize.


Espionagem, História e Literatura

Poucas ou nenhumas profissões serão tão entusiasmantes e perigosas na vida real como nos livros ou no cinema. Mas, a haver uma, é a de espião. O primeiro serviço secreto oficial foi criado em França por Luís XIV, mas há provas de que os antigos egípcios e os hebreus já se serviam da espionagem para obter vantagem política, militar ou tecnológica. Na sua obra mais famosa, A Arte da Guerra, escrita há 2500 anos, Sun Tzu discorre sobre técnicas de dissimulação e o uso de espiões, essenciais numa estratégia política e militar vencedora.

Ainda que registada ao longo dos tempos, é no século xx que a espionagem internacional assumirá maior protagonismo, não só pelo papel que teve no desenlace dos principais conflitos à escala global, mas também pela atenção que lhe dedicaram o cinema e a literatura (o thriller de espionagem passou a ser um prolífico subgénero dentro de cada uma das artes). E é precisamente nesta interseção que surge James Bond, o fenómeno planetário criado por Ian Fleming. O autor britânico espiava para os ingleses em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial e, com base nessa experiência, criou a sua personagem mais icónica.

O Casino Royale que dá título ao primeiro livro (publicado em 1953) é uma referência ao Casino Estoril, e o mais famoso dos espiões da ficção é uma súmula de várias personagens da vida real, entre as quais Richard Sorge, a quem Fleming chamou «o mais formidável espião da história». Este espião soviético, dotado de um charme e capacidade de persuasão que lhe permitiam exercer a sua profissão sem esconder o verdadeiro nome, teve um papel decisivo na Segunda Guerra Mundial e foi alvo de uma exaustiva biografia escrita por Owen Matthews e pulicada este ano em Portugal com o título O Espião Perfeito.

Durante a Guerra Fria, com o mundo à beira de um apocalipse nuclear, o espião era o peão que nenhum líder queria sacrificar. O sempre belicoso Nikita Khruruschov ficou famoso pelas suas bravatas, mas, tal como John L. Gaddis descreve no livro A Guerra Fria, a capacidade militar dos soviéticos era, nessa altura, bastante inferior à dos americanos. Para o líder do Kremlin, mais importante do que o arsenal de que dispunha, era aquele que o inimigo acreditava que possuía, e este exercício de dissimulação bélica, assente numa rede de informação e espionagem, foi uma das suas grandes vitórias.

Em Portugal, os historiadores contemporâneos atribuem parte do sucesso dos Descobrimentos a uma intrincada e bem organizada, ainda que não oficial, rede de espionagem, particularmente ativa no reinado de D. João II. Na Segunda Guerra Mundial o país era um importante e efervescente entreposto de espionagem internacional, palco de um jogo diplomático periclitante e muitas vezes perverso. Já no pós-guerra, o Estado Novo serviu-se dessa experiência para aperfeiçoar o seu próprio serviço secreto e a ele recorrer durante a Guerra Colonial e nos últimos anos do regime, tal como descreve José Manuel Duarte de Jesus no livro Espionagem e Contraespionagem em Portugal.

Na literatura, o género de espionagem remonta ao início do século xx, mas é no período da Segunda Guerra Mundial que conquista autores e leitores, fenómeno em crescendo até aos dias de hoje. Além do supracitado Ian Fleming, John Le Carré talvez seja o autor mais reconhecido e adaptado para cinema e televisão, mas não podemos deixar de destacar nomes como Graham Greene, Frederick Forsyth, Tom Clancy ou, mais recentemente, Luke Jennings, autor de Killing Eve – Nome de Código Villanelle, recentemente adaptado para televisão.

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