Céline Abecassis-Moedas
Céline Abecassis-Moedas é Dean de Educação de Executivos na CATÓLICA-LISBON School of Business and Economics. Doutorada em Estratégia Empresarial pela École Polytechnique de Paris, é administradora não executiva na José de Mello Saúde e na Vista Alegre, desempenhando ainda funções nos conselhos consultivos da COTEC Portugal e da ESCP Business School.
1 – Tem ideia do número de livros que costuma ler mensalmente?
Eu diria 4 ou 5 por mês, mantendo sempre uma mistura entre livros de lazer, por exemplo Uma Noite de Inverno ou Fala-lhes de Batalhas, de Reis e de Elefantes e livros de trabalho, como The Fearless Organization ou The Four. Normalmente estou a ler dois livros ao mesmo tempo, um de cada.
2 – Tem um lugar favorito para ler? E, já agora, mantém-se fiel aos livros em papel ou prefere novos formatos como o livro digital ou o audiolivro?
Gosto de ler antes de dormir. Prefiro muito mais o papel do que o livro digital e evito os eletrónicos pois têm o efeito de excitar o cérebro em vez de acalmar. Recomendo o livro Thrive, de Arianna Hunfington, que fala bastante sobre a importância do sono. Sublinho que a autora cita estudos feitos com atletas e médicos que mostram que apenas uma hora de sono a menos tem um impacto enorme na performance. Ela explica ainda como se criam as condições ótimas para dormir, incluindo a leitura. Um livro é uma excelente maneira de acabar o dia.
3 – Qual é o papel dos livros na formação de executivos?
Na formação de executivos, os participantes continuam a valorizar muito os livros. Os artigos científicos têm a desvantagem de serem mais difíceis de ler, apesar de mais curtos, já que são preparados para um público mais específico.
Os alunos apreciam especialmente ter obras que foram escritas pelo professor que leciona a cadeira e valorizam, até, ter o livro do professor assinado pelo professor. O livro muitas vezes simboliza o facto de o professor ser uma referência na área, o que é muito importante. Podia pensar-se que no século XXI o livro não viesse a ser tão importante na área académica, mas a verdade é que continua a sê-lo.
4 – Qual o espaço da língua portuguesa nas escolas de negócios?
Eu fui uma das primeiras professoras internacionais da Católica e a primeira pessoa a dar uma cadeira obrigatória em Inglês. Há 15 anos foi uma revolução, mas hoje é completamente normal e temos muitos professores internacionais que dão aulas em inglês. Os alunos de gerações mais velhas e de certos setores ainda demonstram uma preferência pelo português. As gerações mais novas estão completamente à vontade com o inglês.
No nosso caso, penso que a divisão entre livros em Português e Inglês será mais ou menos igual. Utilizamos livros escritos pelos nossos docentes e livros de referência de fora. Como os docentes são maioritariamente portugueses, uma parte dos livros acaba por ser em português. Os livros de fora, acabam muitos deles por ser em inglês.
5 – Que livros gostaria de recomendar para ajudar os gestores a superarem tempos como este, particularmente desafiantes?
The Woman I Wanted to Be: Diane von Furstenberg é considerada a mulher mais poderosa do mundo da moda. Este livro conta a história do seu percurso de vida a vários níveis: como empreendedora, como mulher, como mãe e como gestora. É uma biografia muito marcante para mim, primeiro, porque são poucas as biografias de mulheres poderosas e, segundo, por ser um relato muito pessoal das adversidades que ela superou: profissionais, familiares e em termos de saúde. O livro está repleto de aprendizagens que ela foi fazendo ao longo da vida e faço questão de dar uma cópia a todas a minhas amigas.
The Empress of Fashion: Diana Vreeland era uma mulher super-poderosa, editora-chefe da Vogue. De repente vê-se despedida e assim obrigada a uma mudança severa e inesperada na sua vida. Face ao desafio, acaba por ir trabalhar para o Costume Institute do Metropolitan Museum of Art onde, através da sua determinação, consegue criar do zero o que é hoje considerado uma referência mundial, o Met Gala.
Ritz and Escoffier: The Hotelier, The Chef, and the Rise of the Leisure Class: Conta a história de Ritz, um suíço muito pobre, camponês, e Escoffier, o chef que trabalhou com ele. Juntos, criaram uma das grandes referências no mundo dos hotéis. Este livro mostra que o sucesso não é uma coisa que apareça do nada, e há várias cenas que ilustram bem o nível de exigência necessário. Por exemplo, lembro-me de uma cena que o autor relata como depois de várias noites a tentar definir qual seria a altura ideal das mesas para um novo hotel, Ritz decidiu fazer uma mudança de última hora e, na madrugada anterior à abertura, exigiu que se cortassem 5 centímetros dos pés de todas as mesas do restaurante do hotel. Foram anos e anos deste tipo de dedicação que permitiram a Ritz e Escoffier o sucesso que alcançaram.
Para mim estas histórias inspiradoras são ideais em alturas de adversidade.
Outro livro que também recomendo é o Dar e Receber de Adam Grant. Nesta obra, o autor apresenta um modelo em que divide as pessoas em duas categorias, Givers, aqueles que tendência a dar mais a quem está à sua volta, e Takers, que normalmente recebem mais dos outros. E o que a análise dele demonstra é que são os Givers que tendencialmente têm maior sucesso, o que parece algo contra-intuitivo. É um livro com uma mensagem bonita e especialmente importante nesta altura em que as pessoas poderiam inclinar-se para se tornarem mais Takers.
Por último, enquanto professora de gestão de Inovação, recomendo o Wonderland, que conta a história das inovações que foram feitas à volta das indústrias do entretenimento. É interessante porque é um livro que aborda a inovação, mas sem olhar para as indústrias tipicamente associadas a este fenómeno. Por exemplo, o autor relata como autómatos feitos para monarcas no século XV, por razões de entretenimento, acabaram por contribuir com avanços importantíssimos para outras indústrias. Existem paralelos com indústrias atuais como é o caso dos jogos de vídeo, que acabam por ser também uma grande fonte de inovação.
6 – Quais são as ideias principais do seu livro O Papel do Design na Inovação?
É um livro pequeno, escrevi como um ponto de entrada simples para o tema. Normalmente as pessoas pensam na inovação tecnológica como a única fonte de inovação, mas há outras, e o design é uma delas. No livro apresento 3 formas como o design pode ser fonte de inovação e, tanto quanto sei, não há outro livro em que estas três formas sejam discutidas em conjunto.
i) Design-Driven Innovation: Envolve aplicar os princípios do design à inovação nas empresas, o que leva a que os processos de desenvolvimento se foquem em novas dimensões. A Apple é um bom exemplo disto. Anteriormente os produtos tecnológicos distinguiam-se especialmente pelas suas especificações técnicas. A Apple mudou completamente esta perspectiva ao focar-se na criação de uma emoção à volta dos seus produtos e marca. O livro Design-Driven Innovation de Roberto Verganti explora este conceito em profundidade.
ii) Design Thinking: É uma metodologia de inovação que ensina as pessoas a pensar como um designer. É um processo bastante simples, que pode ser explicado a qualquer pessoa, que é muito centrado no utilizador e que permite fazer rapid prototyping – desenvolver rapidamente o protótipo de um produto ou serviço e imediatamente observar o impacto, desenvolver um novo protótipo, e assim sucessivamente. É muito diferente do processo clássico que as empresas seguem em termos de inovação.
iii) Design Management: Este ponto olha para as diferentes opções que as empresas têm no que respeita a métodos de gestão do processo de design e dos designers em si.