Jorge Fonseca de Almeida
Licenciado em Gestão de Empresas pelo Instituto Superior de Economia (ISE) em 1982, com um MBA pela Faculdade de Economia da Universidade Nova/Wharton School da Pensilvânia, em 1985, e uma pós-graduação em Comportamento Organizacional pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (2000). Fez a sua carreira profissional na banca, nas áreas de marketing e consultoria estratégica interna, tendo trabalhado em Portugal, Holanda e Polónia. Neste âmbito pertenceu à equipa eu fez os estudos preliminares para o lançamento da NovaRede, foi Diretor de Marketing do Banco 7, um dos primeiros bancos telefónicos europeus, e foi Dinamizador de Retalho no Banco expresso!Atlântico, a experiência de instore banking da Jerónimo Martins e do Banco Comercial Português. Entre 2000 e 2003 foi o Diretor de Marketing do Retalho do Bank Millennium na Polónia. Foi ainda membro do Gabinete do Presidente do Conselho Geral e de Supervisão do Banco Comercial Português.
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O efeito de halo está bem estudado e documentado quer na investigação económica quer na psicologia. Trata-se de um erro muito comum em decisores económicos e mesmo em pessoas reconhecidamente inteligentes.
Em que consiste então este efeito? Na tendência de transferir as impressões relativas a uma pessoa, um produto, um país de um aspeto para outro. Assim por exemplo na publicidade ao vermos um modelo com boa aparência física podemos atribuir-lhe outras características positivas como seriedade e acreditar no que diz. Naturalmente que, se pensarmos um pouco, a boa aparência física nada tem a ver com a seriedade.
Este viés cognitivo foi estudado e provado pelo psicólogo norte-americano Edward Thorndike que o descreveu em detalhe.
No ocidente a China, por causa do seu regime comunista, é vista negativamente por um conjunto largo de decisores e políticos. Recentemente quando a China teve de reagir contra uma epidemia, que depois se transformou numa pandemia, os decisores políticos recusaram as políticas de saúde chinesas classificando-as de totalitárias. Os resultados foram catastróficos com o número de mortos nas democracias ocidentais a situar-se em patamares muito superiores aos da China – na União Europeia o número de mortos por milhão estava em 240 por milhão de habitantes enquanto na China se situa em 4 mortos por milhão (dados a 4 de Maio de 2020). Por cada milhão de habitantes morreram nas democracias europeias mais 237 pessoas do que na China por causa deste efeito de halo. Rejeitou-se a boa experiência chinesa apenas porque vinha de um país de que estes decisores não gostam ou têm uma opinião negativa relativamente ao sistema político.
Outros países em que os decisores políticos mostraram menos preconceitos e procuraram replicar a experiência chinesa os resultados foram da mesma magnitude do que na China – veja-se os casos do Japão, Coreia do Sul, Taiwan entre outros.
Também na arena económica se procura cometer o mesmo erro e não aprender com o sucesso chinês, o país que mais cresceu nos últimos 60 anos de forma consistente e rápida. Um modelo económico de economia mista que tem produzido resultados espantosos.
Rejeita-se a experiência chinesa com argumentos de “totalitários”, “asiáticos”, etc., como se essas fossem as bases do seu sucesso económico. Ora a China não se tornou uma potência económica por ser “totalitária”, se assim fosse teríamos de admitir que esse tipo de totalitarismo consegue bons resultados económicos, mas por ter implementado uma série de políticas muito concretas que vale a pena estudar e procurar ajustar a outras geografias.
Não devemos deixar que o efeito de halo, um viés cognitivo que nos afasta da racionalidade, nos cegue e nos impeça de estudar, melhorar e aplicar os bons exemplos alheios.
O êxito Chinês, e antes dele o Japonês, assentam, entre muitos outros fatores, na rejeição do efeito de halo e na aprendizagem com os sucessos dos europeus e dos norte-americanos.Artigo originalmente publicado no Dinheiro Vivo, a 7 de maio