Pedro Pita Barros

Doutorado em Economia, Professor Catedrático na Universidade Nova de Lisboa, membro do Expert Panel on Effective Ways of Investing in Health (European Commission), membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e membro do Conselho Nacional de Saúde. 

Conheça a sua obra em www.almedina.net


Pedro Pita Barros, economista e autor Almedina, está a acompanhar diariamente a evolução do Coronavírus na economia e sociedade portuguesa, um conjunto de artigos que iremos partilhar nesta rúbrica a que o autor chamou Vida com o Coronavírus da Covid-19

Nas duas últimas semanas chamou a atenção o crescimento da mortalidade diária em Portugal, retirados os óbitos atribuídos à COVID-19, tendo dado azo mesmo a preocupações quanto ao que poderia estar subjacente a esse crescimento súbito. Num post recente, coloquei aqui a evolução da mortalidade diária e da média de valores diários por semana, para ser mais fácil interpretar e comparar com os anos anteriores (seja a média dos 5 anos anteriores, seja a média dos 11 anos anteriores, em cada dia, conforme os dados oficiais disponíveis).

Ora, passadas duas semanas é tempo de atualizar essas figuras, que estão reproduzidas abaixo. Na primeira figura, o elemento mais importante é a linha vermelha na primeira figura, que traduz a evolução da média diária de óbito (calculada por semana). As linhas cinzentas são a mortalidade média diária por semana nos 5 anos anteriores. A linha roxa é o valor total da média diária por semana, incluindo os casos com COVID-19. A observação anterior que gerou preocupação foi a subida entre as semanas 10 e 13, muito abrupta, e em que o seguimento da linha vermelha traduzia o que era a passagem de um mínimo histórico na mortalidade para perto ou acima do máximo histórico. Os valores das semanas 14 e 15 (as duas semanas que passaram) traduzem porém um retorno da mortalidade sem presença de COVID-19 à “nuvem” das evoluções anuais (nota: esta ideia pode ser tornada precisa calculando desvios-padrão e ser feita com referência aos 11 anos anteriores, mas a figura é suficientemente ilustrativa).

A segunda figura apresenta os valores diários,  em que a linha azul é nessa figura a evolução sem óbitos onde está presente a COVID-19.

Ou seja, os piores receios – de se estar a aumentar a mortalidade por outras causas de forma anormal – não se confirmaram por agora. A ideia de “danos colaterais” – mortalidade por outros motivos aumentar – não deve ser afastada, e será de ir acompanhando essa evolução, mas claramente as estimativas mais elevadas desse efeito foram em grande medida resultado de se ter passado num curto espaço de tempo de valores perto de mínimos históricos para valores nos máximos históricos. A aleatoriedade que naturalmente existe parece estar na base dessa evolução, uma vez que a tendência das semanas 10 a 13 não se prolongou para as semanas 14 e 15.

É também patente que a mortalidade total, com óbitos com COVID-19, está em valores acima do que sucedeu nos últimos 5 anos (primeira figura), e frequentemente os valores diários são o máximo histórico face aos 11 anos anteriores.

A acompanhar de duas em duas semanas, para atualizar, dado que as flutuações diárias têm, como é de esperar, demasiado “ruído”.

figura 1
figura 2

Artigo originalmente publicado por Pedro Pita Barros a 17 de abril em