José Pedro Teixeira Fernandes

José Pedro Teixeira Fernandes é docente do ensino superior e investigador, lecionando nas áreas de Relações Internacionais e de Estudos Europeus. Tem diversos artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais e vários livros nas suas áreas de especialização. Integra o painel de analistas e comentadores de política internacional do Jornal 2 da RTP. É autor de diversos artigos de opinião e análise de questões internacionais na imprensa escrita, nomeadamente, no jornal Público.

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Estamos a assistir a uma extraordinária e continuada queda dos preços do petróleo nos mercados mundiais cujas consequências ainda é cedo para discernir na sua amplitude. 

A queda está a afectar a Arábia Saudita e outros produtores que lhe são próximos do Médio Oriente — bem com a Rússia e os EUA—, os quais, em conjunto, dominam a produção mundial.

Mas há mais vítimas da queda de preços e a sofrer um impacto (ainda) mais duro e profundo. O Irão e a Venezuela, provavelmente já em estado de desespero, pediram empréstimos ao ‘inimigo capitalista’ — o Fundo Monetário Internacional — onde os EUA têm a maior quota. A estes pode juntar-se o caso de Angola — já em recessão e sob um duro programa de assistência financeira do FMI —e de outros que dependem imenso das receitas do petróleo para terem alguma normalidade económica, social e política.

O contexto é o de uma economia global semi-paralisada, com as viagens de automóvel ou de avião drasticamente reduzidas e muitas fábricas encerradas. Assim, nesta altura, a procura de petróleo nos mercados mundiais é muito baixa para os padrões habituais de consumo. O resultado é um preço do barril do petróleo na ordem dos 20 dólares, quando no início de 2020 se transaccionava próximo dos 60 dólares.

Nos mercados, desde 2017 até agora, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) — onde tem predominância a Arábia Saudita — e a Rússia, concertavam a sua produção de forma a evitar excedentes de oferta e quebras acentuadas de preços. Todavia, agora há um desentendimento entre estes grandes produtores, os quais entraram em conflito entre si quando, em inícios de Março passado, se acentuou a quebra da procura devido à pandemia da Covid-19.

Assim, desde 1 Abril de 2020, cada um passou a produzir as quantidades de petróleo e a praticar os preços no mercado que bem entende. A não ser que haja um novo rápido entendimento entre a OPEP / Arábia Saudita e a Rússia, ou, por exemplo, entre a Arábia Saudita e os EUA — país que, nos últimos tempos, voltou a ser o maior produtor mundial de petróleo — a competição irá levar a uma quebra ainda maior dos preços, ou, pelo menos, à persistência de preços baixos nos mercados durante mais tempo.

Para os países produtores, Abril de 2020 poderá ser o pior mês de sempre nos mercados mundiais de petróleo.